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Soja

Soja não vai além da exportação de grão


Folha de S.Paulo - 17 out 2017 - 09:42

O Brasil é o maior exportador mundial de soja e caminha também para ser o maior produtor mundial – desbancando os Estados Unidos.

A soja segue, porém, um caminho que já foi trilhado pelo café. Há décadas, o Brasil é líder mundial na produção e na exportação de café em grão mas falha na agregação de valor via industrialização e geração de "blends" (misturas) fazendo com que o produto perca espaço nas receitas externas.

Enquanto a exportação de soja em grãos da Argentina atinge apenas 14% do que ela produz, a do Brasil é de 60%. A tributação argentina dificulta a exportação do grão, ao contrário da brasileira, que facilita.

O Brasil necessita exportar soja em grãos – e vai continuar exportando –, mas deveria aumentar mais a industrialização do produto, acrescentando valor agregado. Isso não será fácil, uma vez que o maior importador do mundo, a China, já se antecipou e definiu como quer a matéria-prima.

Os chineses facilitam as importações de grãos e dificultam as de farelo e de óleo.

O cenário para o mercado ficará ainda mais complicado nos próximos anos. Afinal, as tradicionais "tradings" começam a sofrer a concorrência de grandes estatais chinesas, que estão adquirindo empresas no setor e entrando na comercialização de soja.

Proteínas

O crescimento interno da produção de proteínas já dá mais espaço para a industrialização. A agregação de valor poderá vir ainda da utilização maior da matéria-prima como fonte energética, tanto na produção de biodiesel como na de etanol.

Dados da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) apontam que a elevação da taxa de mistura do biodiesel ao diesel dos 8% atuais para os 10% esperados para o próximo ano aumentaria a moagem de soja para 43 milhões de toneladas, 1,5 milhão mais.

A moagem de soja especificamente para a produção de biodiesel subiria para 17,9 milhões de toneladas – 17% da produção do país. A soja tem participação de 75% na matéria-prima usada na fabricação do biodiesel.

A produção de óleo de soja sairia dos atuais 8,2 milhões de toneladas para até 8,5 milhões. Deste volume, 3,6 milhões seriam usados na produção de biodiesel.

Isso, além de elevar o valor agregado da soja, reduziria a importação de óleo diesel pelo país e a emissão de poluentes.

Tomando como base um crescimento de 2% do PIB em 2018, a Abiove estima um consumo de 56 bilhões de litros de diesel B para o período. O consumo total de biodiesel seria de 5,4 bilhões de litros, prevê a associação.

Esses cálculos consideram uma mistura de 8% de biodiesel ao diesel nos meses de janeiro e fevereiro e de 9% ou de 10% de março a dezembro do próximo ano.

A industrialização interna da soja, contudo, vai exigir uma política mais agressiva do país nas negociações com tradicionais importadores de soja e seus derivados.