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Soja

Recuo da soja na bolsa de Chicago se aprofunda em setembro


Valor Econômico - 28 set 2018 - 08:49

As disputas comerciais entre Estados Unidos e China, marcadas por ações e reações dignas de novela, continuam afundando, na bolsa de Chicago, as cotações dos principais grãos exportados pelo Brasil. Não fossem o câmbio e os prêmios elevados pela soja brasileira nos portos em função da aquecida demanda chinesa, por exemplo, os produtores do país, maior exportador mundial, teriam que se contentar com preços que não se viam há mais de 11 anos, quando o custo era muito mais baixo que o atual.

Cálculos do Valor Data baseados nas médias mensais dos contratos de segunda posição de entrega na bolsa americana mostram que a soja encerrará setembro com queda de cerca de 3% em relação a agosto e baixas próximas de 15% nas comparações com dezembro e setembro de 2017. Trata-se do mais baixo patamar desde junho de 2007, quando a China ainda se consolidava como a locomotiva que, nesta safra 2018/19, responderá por mais de 60% das importações mundiais.

E os mais recentes movimentos dos investidores que atuam nesse mercado sinalizaram que o fundo do poço ainda não foi alcançado. Segundo dados da Comissão de Negociação de Futuros de Commodities (CFTC), os gestores de recursos ampliaram suas apostas na queda da soja na semana que terminou no dia 18. A ampliação do saldo líquido vendido também refletiu o bom desenvolvimento da safra dos EUA, que deverão colher 127,73 milhões de toneladas no ciclo atual.

As exportações americanas ainda estão estimadas em 56 milhões de toneladas, cerca de 2 milhões a menos que no ciclo passado (2017/18), em boa medida graças a acordos firmados pelo governo Trump com outros mercados, como a União Europeia. Mas também porque a dança de barreiras e represálias que embala a relação de Washington e Pequim pode ser suspensa a qualquer momento e, se não for, as cotações poderão se aproximar um pouco mais do fundo do poço.

Menos exposto ao duelo sino-americano, o milho também fechará setembro em queda na comparação com a média de agosto, de mais de 2%. As estimativas de produtividade recorde nos EUA têm pesado sobre os preços, que ainda apresentam valorizações em relação a dezembro e a setembro de 2017, mas cada vez mais tímidas – a alta na comparação com o mesmo mês do ano passado poderá desaparecer em outubro, tendo em vista que os gestores de recursos também ampliaram nesse mercado suas apostas em novas retrações.

No tabuleiro global do milho, o Brasil deverá voltar ao segundo posto em 2018/19, depois de ter perdido a posição para a Argentina na safra passada. Aqui o câmbio – o dólar forte ajuda a derrubar os preços, num movimento natural de ajuste para preservar a competitividade das vendas dos EUA – também preserva grande parte da rentabilidade das vendas do produtor, mesmo no mercado doméstico, mas os prêmios não são capazes de turbinar a receita com os embarques, como na soja.

Se as cotações dos grãos negociados em Chicago não têm sido motivo de alegria para os produtores brasileiros, não são as “soft commodities” transacionadas na bolsa de Nova York que farão esse papel.  Ali, açúcar e café, cujas exportações mundiais são lideradas pelo Brasil, continuam na areia movediça – e, nesses casos, com grande influência da disparada do dólar especificamente em relação ao real, fator de estímulo aos embarques brasileiros e, teoricamente, de elevação da oferta global.

Segundo os cálculos do Valor Data, o café voltará a recuar em setembro, cerca de 5% na comparação com a média dos contratos de segunda posição de entrega negociados em agosto. Descendo mais um andar – e a todo o vapor, também por causa da colheita recorde no Brasil este ano –, a commodity passa a acumular queda da ordem de 25% em relação à média mensal registrada há um ano.

O açúcar vinha na mesma toada do café, mas a “sintonia” foi quebrada com a expectativa de aprofundamento da queda da produção no Brasil em virtude de adversidades climática e da preferência das usinas em fabricar etanol, que está oferecendo melhor remuneração. Assim, a média deste mês será cerca de 3% maior que a de agosto, mas ainda quase 20% menor que a de setembro de 2017, já que Índia e Tailândia, na contramão do Brasil, estão ampliando suas ofertas.

As outras duas “soft commodities” negociadas em Nova York que engordam os embarques brasileiros vão fechar setembro em baixa, sob a sombra de ofertas robustas e – claro – do dólar fortalecido. No caso do suco, a baixa sobre agosto deve ser de cerca de 5%, e no do algodão será pouco inferior a esse patamar. Ambos os produtos ainda acumulam ganhos na comparação com as médias de setembro do ano passado.