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Custo da poluição é seis vezes maior que o estimado pelos EUA


O Globo - 13 jan 2015 - 10:39 - Última atualização em: 29 nov -1 - 20:53
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Desenvolver a economia à base de poluentes tem um preço. E a conta foi subestimada pelo governo norte-americano, segundo um novo estudo da Universidade de Stanford. O Escritório de Administração e Orçamento dos EUA avaliou que, em 2015, liberar uma tonelada de gás carbônico para a atmosfera provocaria um gasto de US$ 37. No entanto, o levantamento recém-divulgado traz um valor quase seis vezes maior: US$ 220.

O índice, chamado custo social do carbono, é o preço estimado dos danos causados por cada tonelada de CO2 liberada na atmosfera. Quanto maior ele é, mais políticas contra as mudanças climáticas são criadas pelos governos. Por isso os pesquisadores se preocupam com o baixo valor divulgado pela Casa Branca – seria um sinal de que o crescimento econômico americano não será acompanhado por programas de combate às alterações da temperatura global.

Professora da Escola de Ciências da Terra de Stanford, Frances Moore destaca que os impactos econômicos das mudanças climáticas podem ser mais onerosos para a sociedade do que o previsto, já que teriam um choque permanente no PIB dos países.

“O modelo oficial afirma que as mudanças climáticas não afetam a taxa de crescimento econômico, mas novos estudos sugerem que isso não é verdade”, acusa Frances, coautora do estudo. “As mudanças climáticas afetam não só a produção econômica de um país, mas também o seu crescimento. Há, então, um efeito permanente, que se acumula ao longo do tempo, levando a um custo social muito maior do carbono”.

Para Frances, a comunidade internacional precisa assinar um acordo que evite que o crescimento econômico seja realizado a qualquer custo. Do contrário, o planeta assistirá ao sacrifício de elementos que garantem os recursos básicos para a economia mundial, como o índice de pluviosidade e a fertilidade do solo. Políticas de mitigação mais ambiciosas também evitariam eventos extremos, como enchentes e terremotos, que arrasam por anos a economia de uma região.

Coautora do estudo, Delavane Diaz considera “limitada” a definição americana do impacto do CO2 na economia. “As estimativas consideram setores como agricultura, demanda de energia, recursos hídricos, saúde humana e ecossistemas, entre outros”, enumera a pesquisadora de Gestão de Ciência e Engenharia de Stanford. “No entanto, os custos de cada uma destas categorias são efêmeros, em comparação com as mudanças climáticas”.

As pesquisadoras admitem que o levantamento ainda precisa ser melhorado. Seu cálculo considera problemas que as mudanças climáticas podem desencadear a médio prazo, mas não o tempo necessário para o desenvolvimento de novas fontes de energia sustentável.

O papel dos países em desenvolvimento também é uma incógnita. Faltam dados para saber como o aumento do custo do carbono beneficiaria as nações mais pobres. “Em um país pobre, as políticas de mitigação demoram mais para fazer efeito”, cogita Frances. “A carência de infraestrutura aumenta sua vulnerabilidade às mudanças climáticas. No entanto, se houver investimento, eles enriquecerão e terão instrumentos para se defender de eventos extremos”.

Luiz Serrano, especialista em finanças ambientais e economia de baixo carbono, considera que o estudo corrobora a necessidade de investimentos em mitigação, inclusive pela iniciativa privada.

“No mundo empresarial, as mudanças climáticas devem ser incorporadas na avaliação de riscos e oportunidades de um negócio”, ressalta Serrano, gerente de negócios da empresa de soluções sustentáveis KeyAssociados. “No ambiente público, mais ainda, pois pode impactar na geração de dívidas, nos projetos nacionais e em temas relevantes para a população”.

Colapso 
Enquanto os EUA subestimam o investimento em políticas sustentáveis, Todd Stern, enviado especial do país para mudanças climáticas, declarou ontem que teme o colapso das conferências do clima (COPs), caso o próximo encontro, no fim do ano, em Paris, não seja bem-sucedido. Para ele, isso faria os países desistirem de um acordo que unisse todos os governos. Diversos órgãos globais, como o G20 e o FMI, já discutem o tema, mas apenas as COPs têm poder para estabelecer decisões globais.

Renato Grandelle – O Globo