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Algas

Biocombustíveis feitos de algas ainda não são sustentáveis


BiodieselBR.com - 30 out 2012 - 15:52 - Última atualização em: 29 nov -1 - 20:53
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Por seu potencial produtivo e por não competiram pelos recursos agrícolas, as microalgas vinham sendo apontadas como a bala de prata que faria os biocombustíveis substituírem de vez as fontes fósseis. Mas um relatório divulgado quarta-feira passada (24) pelo Conselho Nacional de Pesquisa dos Estados Unidos jogou água gelada na fervura ao determinar que, dentro do atual paradigma tecnológico, a produção em larga escala seria inviável.

A entidade faz parte de um grupo de organizações sem fins lucrativos que aconselha o governo norte-americano em questões científicas. O grupo resolveu se pronunciar sobre o assunto a pedido do Departamento de Energia dos Estados Unidos, que vem demonstrando entusiasmo em relação à pesquisa de algas. Ela faz parte de uma estratégia de superação da dependência americana ao petróleo importado. Um número crescente de companhias – incluindo algumas gigantes do setor de petróleo – também vêm apostando nessa nova tecnologia.

Mas, de acordo com o relatório elaborado por um comitê formado por 15 pesquisadores, os custos para atingir uma capacidade produtiva de 39 bilhões de litros – o equivalente a 5% da demanda dos Estados Unidos para combustíveis líquidos – seriam intransponíveis. “Com a tecnologia atual, um aumento de escala criaria demanda realmente grandes não apenas no consumo energético, mas também na água, terra e nutrientes necessários”, disse a microbiologista Jennie Hunter Cevera em entrevista à Reuters. A cientista foi a líder do comitê responsável pelo relatório.

As variáveis que têm recebido maior atenção envolvem: a cultura de cepas selecionadas de microalgas ou cianobactérias em sistemas de tanques abertos ou em fotobiorreatores; uso de água doce ou salgada; processamento integral da biomassa produzida ou coleta de precursores químicos secretados pelas culturas para, então, convertê-los em combustíveis. Cada um dos esquemas analisados mostrou suas próprias dificuldades. Com isso surgem dúvidas se o balanço energético – a quantidade de energia contida nos biocombustíveis versus a quantidade consumida ao longo do processo de produção – seria favorável.

Por exemplo, para substituir um único litro de gasolina seriam necessários entre 3,15 e 3,65 litros de água. Desenvolver rotas menos intensivas no uso recursos hídricos e de reciclagem da água consumida seria uma etapa vital antes que esquemas de produção em larga escala possam se tornar viáveis.

Os pesquisadores também calcularam que para atingir a meta de 39 bilhões de litros de biocombustíveis de algas seriam consumidos até 15 milhões de toneladas de nitrogênio e 2 milhões de toneladas de fósforo. Comparando esses números com o consumo anual desses dois fertilizantes nos Estados Unidos, haveria um crescimento de 107% e 51%, respectivamente. Uma saída seria a reciclagem de nutrientes através do aproveitamento de águas servidas do setor agrícola ou urbanas.

Carbono
Mesmo o balanço de carbono das microalgas ainda está indeterminado. Os resultados das análises de ciclo de vida dos biocombustíveis de algas mostram grande variação no que diz respeito às emissões de gases de efeito estufa (GEEs). Alguns dos estudos resenhados pelo comitê chegam a sugerir que o cultivo de microalgas com fins energéticos emite mais CO2 equivalente do que os combustíveis fósseis que substituem.

Esse não é um veredito definitivo. Segundo o relatório, inovações futuras na seleção de cepas e no desenho de métodos de produção poderão vir a viabilizar o potencial dessa nova matéria-prima. Além disso, com um gerenciamento adequado, as algas poderiam ajudar a mitigar problemas ambientais atuais ao permitir a reciclagem de recursos hídricos e nutrientes que hoje são subaproveitados. Por exemplo, a água usada em solos agrícolas costuma carregar fertilizantes até corpos d’água naturais onde provoca o crescimento descontrolado de algas com efeitos ambientais geralmente nocivos. Esquemas bem desenhados poderiam remover os nutrientes adicionais presentes nessa água antes de devolvê-la ao meio ambiente.

Em suas conclusões, o grupo de pesquisadoras recomenda que os investimentos em pesquisa sejam mantidos. “Os biocombustíveis de algas ainda estão em sua adolescência e precisam de incentivos e nutrição”, resumiu Jennie Hunter Cevera.

É possível baixar a íntegra do relatório clicando aqui.

Fábio Rodrigues – BiodieselBR.com
Com informações Reuters