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Energia

O mundo da energia: fatos, barreiras, sonhos


Agência Estado - Luiz Carlos Corrêa Carvalho - 29 nov 1999 - 22:00 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:22

Energia é desenvolvimento! Se sustentável, ou não, é outra discussão. Mas sem energia não se move e sem movimento não há vida!

O conceito da mobilidade se ligou ao de liberdade e é o sonho de todo homem. O uso da energia, no século XX, moldou a lógica e o raciocínio do homem nas mais variadas línguas; mudou o sentido dos negócios, e encaminhou a humanidade para a maior revolução até então vista: a globalização.

Desde meados do século XX, o conceito global vem carregando as diferenças de continentes, países e regiões, tal qual uma avalanche ou uma violenta enxurrada ou um verdadeiro "tsunami". Os países lutam para manter as suas tradições e costumes, até mesmo para manter a sua língua, seu dinheiro e seu orgulho.

O processo de globalização mergulhou o mundo num sistema de velocidade de informações e imagens; de aproximação de desejos e costumes; de mobilidade, de marcas globais, de alimentação e de intensa guerra de religiões e de soberanias.

Todo esse rápido jogo de mudanças atravessa os mares e terras, como um verdadeiro desequilíbrio ecológico que gera as nuvens de gafanhotos ou os fenômenos climáticos como os tufões. Aqueles que insistem em não ver as mudanças serão soterrados por elas, talvez até vivos.

Sem energia isso não seria possível. Os homens saíram das cavernas com a descoberta do fogo, que permitiu, posteriormente, aumentar o processo de produção agrícola no planeta. Mais tarde, verificou-se que era um grande erro ambiental. Os homens se aqueciam com a lenha, além da energia que proporcionava.

Mais tarde, verificou-se que esse caminho de desmatamento era predatório e tremendamente negativo para a natureza. Os homens, então, fazem a sua maior descoberta: O carvão mineral, que levou à fantástica revolução industrial no século XIX e que substituiu a lenha. Mal sabiam eles o mal que faziam ao planeta. Mas o carvão tinha dificuldades de uso e, num lance genial, o homem descobre o petróleo, rei absoluto da energia no século XX e assim será até meados do século XXI.

Mas descobriu-se que o encantamento do maior desenvolvimento e melhoria da qualidade do homem jamais antes visto, proporcionado pelo uso do petróleo e de seus derivados, aqueceria o planeta e colocaria em risco o futuro da humanidade!

Esses fatos, são um consenso. O homem encontra-se no limiar de uma atitude radical que dificilmente tomará: reduzir, urgentemente, a queima dos combustíveis fósseis, diga-se do carvão, do petróleo, do gás natural. Junto a isso, inclua-se a questão da energia nuclear, pelos riscos de contaminação e pelos resíduos.

Os sonhos dos ambientalistas do Clube de Roma, na década de 1980, vêm se realizando passo a passo. Aqueles homens que definiram a fundamental importância do desenvolvimento sustentável viam a necessidade de que todos buscassem respeitar as leis da natureza, essenciais para as nossas futuras gerações.

Desde então, passando pela Rio 92, além de outras reuniões, formaliza-se a ratificação do Protocolo de Kyoto que busca, em síntese, a redução das emissões dos gases do efeito estufa com base em 1990, crucial para o objetivo maior de um desenvolvimento global mais harmônico e com paz!

O sonho de melhoria de qualidade de vida dos povos em desenvolvimento é, obviamente, parte essencial dessa discussão. Um olhar para como é o uso da energia nas várias regiões do nosso planeta é suficiente para que se entenda as dificuldades de se realizar mudanças rápidas, consistentes e permanecentes. O consumo per capita de energia primária cresce com a renda num padrão semelhante, através dos países e do tempo.

É um fato que a energia é essencial para o desenvolvimento econômico e a melhoria nos padrões de vida. Um recém estudo da Shell sobre cenários futuros mostra que o efeito renda provoca grandes mudanças de desenvolvimento social nos países e suas sociedades e que os que sobem naquela "escada" podem ir em frente com importantes ganhos de energia per capita com menor uso per capita de energia. Novos países em desenvolvimento poderão ascender mais rapidamente graças a novas tecnologias que requerem menor uso de energia ou menor pressão sobre o meio ambiente.

Mas - sempre há um mas - como se consegue elevar rapidamente a renda per capita dos países em desenvolvimento, que produzem "commodities" que são protegidas pelos países ricos que querem a abertura dos mercados dos pobres para seus produtos de valor agregado? Começa-se, então, a discutir as barreiras, mas aquelas impostas politicamente pelos homens, pois o planeta é um só!

Sem entrar no mérito das barreiras do acesso aos mercados, terríveis, negativas e sufocantes, vale analisar os esforços comuns que os países industrializados e os em desenvolvimento deverão realizar para mudar a forma de produzir e usar energia, promovendo a descentralização da produção limpa e renovável, distribuindo-se a renda em mecanismos de mercado e confirmando a busca global pela melhoria da qualidade de vida do homem e a essencial corrida pela paz.

Hoje, tem-se 1 bilhão de pessoas que sequer atingiram primeiro degrau da "escada" de energia, enquanto mais do que 3 bilhões de pessoas estão vivendo no mínimo dos requerimentos de energia básica! Isso não é sustentável, não é humano, não é aceitável.

Os que podem pagar pela energia esperam excelente qualidade; disponibilidade; que seja segura, limpa e portátil; global e acessível. Os que podem produzi-la desejam mercado, poder competir e ter políticas globais que a estimulem.

As barreiras não explícitas são as mais complexas. Já dizia Abraham Lincoln que o pior inimigo é o que não tem posição. Segurar o desenvolvimento do etanol ou do biodiesel porque os custos atuais desses produtos energéticos renováveis são elevados é negar a lógica da curva do aprendizado: o exemplo brasileiro com o etanol, que tem custos de US$ 30/barril contra preços de US$ 58/barril da gasolina; os atuais veículos híbridos, hoje mais caros mas que nos próximos anos estarão livres dos subsídios atuais; o exemplo alemão do biodiesel; e por aí virão exemplos atualíssimos como os das células de hidrogênio.

As barreiras explícitas vão se degradando passo a passo, não somente por discursos como este, mas pela transformação das antigas empresas de petróleo em atuais empresas de energia; por atitudes de entidades como a International Energy Agency ou empresas como a Shell, a BP ou a Petrobrás.

"Toda jornada de 1000 milhas se inicia com o primeiro passo" Lao tse

A transformação da agricultura energética será o fato mais contundente neste século XXI. Tratar-se-á de fazer a volta ao futuro, ou seja, de voltar à agricultura como forma de obter energia, mas com a tecnologia que permita a sua obtenção de modo equilibrado, de acordo com a meta de sustentabilidade que necessita o planeta.

A agricultura tropical será, assim, porta de entrada de um processo de paz, competitivo e acelerador da redução da renda entre as classes sociais e países industrializados e em desenvolvimento.