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Biodiesel

Pinhão-manso, a inusitada opção para biodiesel


Valor Econômico - 24 ago 2007 - 08:16 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:23

Até recentemente, B.K. Nagendrappa não dava a mínima para o pinhão-manso, ou "jatropha", uma feia plantinha verde que cresce fácil na Índia. Agora, esse produtor de coco espera plantar até cinco hectares do pinhão-manso em seu terreno perto de Bangalore.

V. Venkateswarao também está cultivando a planta - num trecho desértico de terra em Hyderabad. Assim como O.P. Singh, um horticultor do Ministério de Ferrovias da Índia, num calmo jardim perto de um velho aeroporto de Nova Déli.

"Anote aí: esta planta vai salvar a humanidade", proclama Singh enquanto aponta para um arbusto de pinhão-manso com 1,2 metro de altura. Algum dia, acrescenta, "toda casa terá jatropha!"

Berçário de pinhão manso
Berçário de pinhão manso perto de Eluru, na Índia: ao contrário de outras fontes de biodiesel, pode ser cultivado em desertos, lixões e áreas rochosas
Com o petróleo estabilizado em torno dos US$ 70 por barril, esta planta baixinha, originária da América do Sul e levada à Índia muito tempo atrás por comerciantes portugueses, tornou-se uma estrela inusitada no cenário mundial dos combustíveis alternativos. No Brasil, há vários projetos para seu plantio e exploração em estudo ou andamento, em regiões como o Vale do São Francisco.

Os frutos do pinhão-manso, que são do tamanho de uma bola de golfe, contêm um líquido amarelado parecido com o óleo de dendê que pode ser transformado em biodiesel, um combustível renovável cada vez mais importante.

Mas diferentemente de outras fontes de biodiesel, a jatropha pode ser cultivada em quase qualquer lugar - inclusive desertos, lixões e áreas rochosas. Ela não precisa de muita água ou fertilizante, e não é comestível. Ou seja, os agricultores não têm de se preocupar se estão desviando recursos de culturas que poderiam ser usadas para alimentar as pessoas.

{sidebar id=6} Essas qualidades são importantes numa época de preocupações maiores com as conseqüências sociais e ambientais de um boom mundial de combustíveis alternativos. São necessárias enormes quantidades de terra, água e químicos para se cultivar plantas que produzam álcool e biodiesel. E à medida que os governos definem metas para seu consumo, crescem os temores de que o mundo não vá conseguir atender à demanda sem um dano ambiental significativo.

A Goldman Sachs citou recentemente o pinhão-manso como um dos melhores candidatos para futura produção de biodiesel. Uma análise do Bear Stearns no ano passado constatou que os agricultores americanos têm capacidade para substituir apenas 7% da gasolina consumida no país com etanol à base de milho, apesar da nova meta do governo de que os combustíveis renováveis representem 15% do total até 2017. Para alcançar a meta, os EUA provavelmente teriam de encontrar mais terra.

A Índia, por sua vez, tem milhões de hectares de terra não-cultivada que não são plenamente utilizadas por causa de tábuas d´água baixas e solo infértil. Proponentes do pinhão-manso calculam que a planta pode cobrir boa parte dessa área sem causar problemas ambientais.

No fim de junho, a petrolífera britânica BP PLC informou que investirá US$ 90 milhões numa joint venture com a também britânica D1 Oils PLC, uma nova empresa de biocombustíveis que está desenvolvendo o pinhão-manso na Índia, no Brasil e em outros países.

Outra empresa, a australiana Mission Biofuels Ltd., captou mais de US$ 80 milhões de investidores e tem representantes vasculhando o território indiano para fechar contrato com produtores. Ela já tem 26.000 hectares em cultivo e espera chegar a 100.000 até 2010.

O entusiasmo pelo pinhão-manso e outras plantas do gênero ilustra com que rapidez os investidores estão trocando de foco agora que os inconvenientes de outros combustíveis renováveis se tornam mais aparentes. Também ilustra os riscos de novas abordagens, já que ainda é bastante incerto que o pinhão-manso e outras sejam economicamente viáveis em grande escala.

Em algumas estimativas, o custo por barril para produção de biocombustível usando o pinhão-manso - uns US$ 43 - é mais ou menos metade do custo do milho e cerca de um terço o da colza, ou canola, duas outras importantes matérias-primas para a energia alternativa. A esses preços, o biodiesel de jatropha poderia competir com derivados de petróleo sem subsídios públicos significativos.

Mas esses cálculos são baseados em experiência limitada com a cultura. Agrônomos mal a estudaram no passado porque era considerada quase inútil. O pinhão-manso era mais conhecido na Índia e em outros lugares como uma proteção para evitar que animais selvagens entrassem em fazendas.

Cultivo Energético Mesmo alguns dos mais ardorosos proponentes do pinhão-manso admitem que a produção de óleo da planta é imprevisível e muitas vezes menor do que esperado. Embora ela possa crescer sem água, tende a fazê-lo muito melhor quando recebe água, o que aumenta o custo de produção e reduz parte dos benefícios.

Alguns agricultores já registraram prejuízos com plantações de pinhão-manso após suas colheitas renderem menos óleo do que se previa ou compradores não pagarem preços suficientes. Na pior das situações, temem especialistas, pequenos agricultores indianos podem acabar servindo de ratos de laboratório de uma indústria não testada, o que os deixaria endividados caso o boom se esvaia.

Patrick Barta