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Biodiesel

Gaúchos vêem no biodiesel saída para a soja


DCI - 02 mar 2006 - 08:53 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:22

Ao mesmo tempo em que comemora o bom desempenho da safra 2005/06, o Rio Grande do Sul já planeja redirecionar os seus produtos agrícolas para novos mercados. Segundo o coordenador estadual da área de milho da Associação Riograndense de Empreendimentos de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater/RS), Eniltur Viola, um fator que deve impulsionar a área de soja na próxima safra e reduzir a área de milho é o desenvolvimento da produção de biodiesel . Na última semana, a Granol anunciou a construção de uma unidade em Cachoeira do Sul que poderá processar 100 milhões de litros do combustível por ano. A capacidade é a mesma da fábrica da BSBios, cuja instalação em Passo Fundo foi garantida também na última semana. A Granol deve investir R$ 60 milhões na usina e mais R$ 20 milhões na reativação de uma antiga unidade de processamento de soja da Centralsul, anunciou o governador Germano Rigotto. O esmagamento do grão deverá começar no final de abril, e a produção de biodiesel está prevista para o mês de agosto. “Este novo setor também poderá impulsionar o plantio de canola, girassol e outras oleaginosas no estado”, projeta Viola.

Depois de ser atingido pela maior seca dos últimos anos, em 2005, o Rio Grande do Sul deve recuperar os patamares tradicionais de produção de grãos neste ano.

Na lavoura de soja, que começa a ser colhida no início de março, a área plantada nesta safra ficou em torno de 4,02 milhões de hectares, o que representa uma redução de 3,8% na comparação com a safra anterior. Por outro lado, ressalta o assistente técnico da Emater/RS, Cláudio Doro, tanto a produtividade quanto a produção total vão aumentar, já que o clima colaborou com a cultura.

O último levantamento da Emater/RS estima uma colheita próxima a 9 milhões toneladas, sendo que em 2005 foram 2,307 milhões toneladas colhidas. Já a produtividade, diz Doro, deve chegar a 2,4 mil quilos por hectare, quase três vezes a do ano passado.

No entanto, a produção total gaúcha não deve mais retornar ao patamar que havia atingido em 2001, de 10 milhões de toneladas de soja colhidos, pelos quais os produtores conseguiam mais de US$ 20 pela saca de 60 quilos. “O preço está em queda, e a rentabilidade do agricultor na exportação também, o que incentiva a redução no plantio”, explica Doro.

Além disso, ele lembra que os estoques mundiais estão crescendo, e tanto o Mercosul quanto os Estados Unidos prevêem elevação na colheita de soja para esta safra, o que aumentará ainda mais a oferta mundial, derrubando preços. Por causa desta situação, muitos agricultores substituíram parte da soja nas suas propriedades por milho.

A área plantada com milho este ano ficou em 1,39 milhão de hectares, cerca de 15% menor do que em 2005 e compensando exatamente a queda de 3,8% na área de soja. O rendimento, revela Viola, ficará em torno de 3,017 quilos por hectare, e a produção total deve ser de aproximadamente 4,19 milhões de toneladas.

Na lavoura de arroz, o prognóstico para este ano também é positivo, embora a competição com o produto importado seja um fator de preocupação para o setor. José Enoir Daniel, engenheiro agrônomo da Emater/RS, conta que a área plantada está em torno de 1 milhão de hectares, cerca de 3% inferior à de 2005. “Tivemos uma entrada muito forte de arroz importado do Uruguai e Argentina no ano passado”, diz Daniel.

Sendo assim, o preço do produto caiu para valores abaixo do custo de produção, o que desestimula os produtores. A produção também deve ser menor este ano, passando de 6,5 milhões de toneladas no ano passado para 6 milhões de toneladas em 2006.

Paraná

Os grãos, que historicamente representam a força do Paraná no agronegócio, sinalizam um ciclo negativo que completa dois anos, acumulando perdas de 10 milhões de toneladas. A estimativa da produção para esta safra no estado é de uma queda de 20% em relação à anterior — desde 2005 o prejuízo da agricultura alcança cerca de R$ 3,5 bilhões.

“O estado tem uma boa produção de café e açúcar, segmentos que estão em alta neste ano, mas a maior força vem dos grãos”, ressalta o analista da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), Robson Maffioletti.

A perspectiva inicial do estado era de atingir uma produção de 25,41 milhões de toneladas, mas, no inicio fevereiro, a projeção foi revisada para baixo, em 21,54 milhões de toneladas. No entanto, a quebra deve ultrapassar as 4 milhões de toneladas, segundo estimativas do mercado.
De acordo com último relatório do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seab), divulgado na última sexta-feira, a soja deve apresentar redução de 16%, passando de 11,73 milhões de toneladas para 9,89 milhões de toneladas.

Milho

O milho da primeira safra é a cultura de verão mais afetada pela estiagem. Segundo o levantamento, a quebra na produção é de 22,1%. O potencial produtivo, que era estimado em 9,38 milhões de toneladas, atualmente está avaliado em 7,3 milhões de toneladas. O volume que deixará de ser colhido representa uma perda financeira de R$ 443,26 milhões. A estimativa é que deverão ser cultivados 1,5 milhão de hectares das culturas de inverno nesta safra. A produção prevista para o Paraná varia entre 3,32 milhões de toneladas e 3,65 milhões de toneladas. No mês de março, a colheita dos principais grãos de verão (soja e milho) estará no pico. Por enquanto, foram colhidos 20% da área de 1,5 milhão de hectares de milho e 10% dos 3,8 milhões por hectare da soja.

A produção catarinense de milho, já prejudicada pelas estiagens em 2004 e 2005, sofreu novo revés este ano. O engenheiro agrônomo do Instituto de Pesquisa e Planejamento Agrícola de Santa Catarina da Secretaria de Estado da Agricultura (Epagri/Cepa), Simão Brugnago Neto, comenta que a falta de chuvas desde novembro do ano passado até meados de janeiro, especialmente nas regiões de Chapecó, São Lourenço, Xanxerê, Concórdia, Joaçaba e Campos Novos, repercutiu em expressiva redução de seu potencial. A produção, inicialmente estimada em até 4 milhões de toneladas, deverá cair para algo próximo de 3 milhões de toneladas.

No caso da soja, a previsão era de plantar 333 mil hectares, mas houve uma redução de 6% na área plantada no estado, cerca de 20 mil hectares a menos. Os prejuízos somados estão estimados em R$ 20 milhões e a quebra de safra poderá chegar a 15%. O total avaliado seria de 875 mil toneladas, mas 134 mil toneladas já foram perdidas.

O engenheiro agrônomo explica que muitos desses terrenos dedicados à soja foram destinados ao cultivo de milho e feijão. A produção catarinense desta primeira safra de feijão deve crescer em proporções inferiores à da media nacional. Conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) deve alcançar 109,2 mil toneladas, com um rendimento por hectare na casa de 1,2 toneladas. Já em Minas Gerais, a queda na produção de grãos deve ser de 14% em relação às estimativas iniciais, para 8,1 milhões de toneladas, informa a Emater/MG. No caso do milho, as perdas chegaram a 17%.