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Biodiesel

Embrapa pede para poupar oleaginosas


Gazeta Mercantil - 04 jun 2007 - 07:02 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:23

A demanda mundial por biocombustível já começou a afetar a segurança do abastecimento alimentar global. Na avaliação de especialistas, fenômenos como a alta de 75% dos preços do óleo de soja no mercado internacional desde outubro já refletem um cenário de desequilíbrio entre oferta e demanda de oleaginosas, a principal matéria-prima dos biocombustíveis.

Autor do alerta, o pesquisador Décio Luiz Gazzoni, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), adverte que governos e empresas precisam buscar alternativas de matérias-primas que poupem as oleaginosas para fins majoritariamente alimentares (ou seja, para o consumo animal - aves, suínos, bovinos).

De acordo com o pesquisador, o consumo global de soja projetado para os próximos quatro anos demandará um crescimento de 8% ao ano da oferta de soja do País. Até 2011, calcula, a produção brasileira terá que saltar dos 85 milhões de toneladas do ano passado para um total de 85 milhões de toneladas em 2011.

O pesquisador Gazzoni questiona, no entanto, a capacidade do produtor brasileiro de atender a essa demanda, devido às dificuldades não só de captação, mas principalmente de licenciamento ambiental.

Como exemplo do impacto potencial do desequilíbrio entre oferta e demanda, Gazzoni cita a distorção provocada pelo crescimento da demanda para o próprio programa brasileiro de biodiesel. Diante do alto consumo de soja para fins energéticos, produtores já ameaçam não entregar a produção contratada pela Petrobras por meio de leilões públicos. Se a promessa for cumprida, o governo corre o risco de não conseguir cumprir a meta oficial de adição de 2% de biodiesel ao óleo diesel consumido no País, prevista para o próximo ano.

Na prática, avaliam especialistas do setor, isso representaria o fracasso do programa nacional de biodiesel.

Como forma de pelo menos minimizar os impactos potenciais desse tipo de distorção, o pesquisador da Embrapa também sugere a regulamentação do mercado de biodiesel em foruns internacionais como a FAO (órgão das Nações Unidas para segurança alimentar), Unctad e a própria Organização Mundial do Comércio (OMC).

Esse tipo de medida, segundo o pesquisador, asseguraria a segurança do abastecimento, se associada à busca de alternativas de matérias-primas para fabricação de biodiesel.

Atualmente, lembra o pesquisador, todo o estoque mundial de biodiesel daria para abastecer o mercado por no máximo de 15 dias. Só na União Européia, por exemplo, 84% da área plantada se destina à fabricação de energia. Sem novas fronteiras agrícolas, o continente europeu terá que recorrer prioritariamente a "celeiros" como África e Brasil.

O problema, diz Gazzoni, é que mesmo com área disponível para novas plantações, o País não dispõe de condições para atender, ao mesmo tempo, as demandas interna e externa do produto.

"É preciso haver maior coordenação das políticas públicas globais voltadas para o biodiesel porque a soma das partes do todo está maior do que o todo. Se não houver uma coordenação, estaremos fadados a dar razão ao companheiro Fidel Castro", ironizou Gazzoni, ao recorrer às recentes críticas do presidente de Cuba contra a expansão dos biocombustíveis. Castro alertou que a expansão desse tipo de alternativa energética poderia agravar o problema da fome no mundo.