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Biodiesel

Análise do mercado da soja


Só Notícias - MT - 29 nov 1999 - 22:00 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:22

As cotações futuras do grão de soja na Bolsa de Chicago tiveram uma semana de queda. Na prática, salvo movimentos momentâneos de elevação, o mercado não tem notícias que suportem altas já que a colheita se desenvolve muito bem nos Estados Unidos. Até o dia 25/09, 19% da área já havia sido colhida, contra 14% na média histórica, com a produtividade média surpreendendo positivamente o mercado. Ao mesmo tempo, as condicoes das lavouras restantes indicavam uma melhoria no conjunto das boas e excelentes lavouras, com o mesmo atingindo 55% do total, contra 53% na semana anterior.

A ausência de novidades capazes de sustentar os ganhos das semanas anteriores, a retração nos preços do óleo, que ainda é o elemento mais forte do complexo, e o clima positivo para o avanço da colheita nos Estados Unidos formaram o cenário baixista. Assim, o fechamento desta quinta-feira (29) ficou em US$ 5,60/bushel, após ter chegado a US$ 5,57 no dia 27/09. Na segunda-feira (03/10), o USDA divulgará novos dados sobre a evolução da colheita norte-americana. O farelo fechou a quinta-feira em US$ 167,10/tonelada curta (a mais baixa cotação desde o dia 16 de fevereiro de 2005). Já o óleo fechou em 22,55 centavos de dólar por libra-peso, após 22,09 na terça-feira (27).

A semana fechou sem nenhuma perspectiva de recuperação importante nas cotações em Chicago. Pelo contrário, quanto mais rápido ocorrer a colheita mais facilmente se confirmará a excelente safra, agora projetada em 77,7 milhões de toneladas. E, diante da produtividade até aqui registrada, não está descartada, agora, uma nova revisão para cima, da produção final, quando do relatório de oferta e demanda, a ser anunciado em 12/10 (feriado nacional no Brasil). Lembramos que o preço limite, por enquanto estabelecido pelo USDA, para o ano comercial 2005/06 seria de US$ 5,15/bushel e que a média histórica (últimos 34 anos) é de US$ 6,34/bushel.

Dito isto, lembramos que movimentos especulativos podem fazer flutuar os preços até o final do ano, ocorrendo alguns momentos de pequenas recuperações.

Pelo lado da demanda, a China teria importado 17,7 milhões de toneladas de soja entre janeiro e agosto deste ano, aumentando em 41% o volume adquirido, em relação ao mesmo período do ano anterior. Espera-se para este novo ano comercial um total de 27 milhões de toneladas de grãos de soja importadas pelo país asiático.

Já nos EUA, o esmagamento de soja em agosto chegou a 3,55 milhões de toneladas, ficando 6,6% abaixo do registrado no mês anterior, porém, 26,5% acima do que o registrado no mesmo mês de 2004. No acumulado do ano comercial 2004/05 (out/04 a ago/05) o volume esmagado é de 42,9 milhões de toneladas ou 12,4% acima do registrado no mesmo período do ano anterior.

Na Europa, o CIF Rotterdam para os pellets de soja oscilaram bastante, tanto para o produto argentino quanto para o brasileiro. O produto do vizinho país, no disponível, chegou a US$ 203,00/tonelada enquanto o brasileiro a US$ 226,00, devido a sua qualidade média superior. Na Argentina, pouco movimento registrado, com as vendas sendo normais. A registrar o fato de que os produtores do vizinho país estimam poder aumentar em mais 10 milhões de toneladas a sua produção de soja (hoje estimada em 39 milhões de toneladas para 2005/06) caso tivessem acesso a todas as tecnologias relativas à transgenia, propostas para os próximos anos pela empresa Monsanto. Como já se sabe, a referida empresa, e outras que estudam a fundo a biotecnologia, esperam colocar no mercado sementes de soja resistentes à seca e que contenham maior teor de proteína, tornando a nova soja um produto diferenciado, com agregação de valor mesmo sendo um produto bruto. Cabe ao Brasil não perder o processo e estudar as possibilidades de reconhecimento da patente destas tecnologias, caso que igualmente estaria em estudo na Argentina.

Ainda em termos internacionais, temos a destacar que a produção mundial das 10 principais oleaginosas, segundo Oil World, está agora projetada em 377,3 milhões de toneladas para 2005/06, sendo 216,1 milhões em soja. Em 2004/05, os volumes ainda estimados, indicam um total geral de 374,3 milhões de toneladas, sendo 212,5 milhões em soja. Os estoques finais ficariam em 65 milhões de toneladas (os maiores dos últimos nove anos), sendo 54,1 milhões em soja (também o maior nos últimos nove anos). Neste sentido, a relação estoque/consumo ficaria em 17,3%, ou seja, praticamente idêntica ao registrado no ano anterior, se confirmando como as duas melhores desde 1997/98.

Interessante se faz observar que tais análises são bastante conservadoras para o Brasil, apontando uma produção total de apenas 58 milhões de toneladas em 2005/06, quando o mercado interno brasileiro indica 62 milhões de toneladas. Já para a Argentina, existe uma super-estimativa, com o volume indicado batendo em 41,2 milhões de toneladas contra 39 milhões hoje indicados pelo mercado regional. No caso do Brasil, projeta-se uma redução ainda maior da área semeada (a incógnita continua sendo o Mato Grosso, onde chega-se a apontar uma redução de até 20% na área), com a mesma sendo indicada em 21,7 milhões de hectares contra 22,4 milhões indicadas atualmente pelo mercado interno brasileiro.

Pelo lado das importações, a União Européia, mesmo com 25 países, manterá as mesmas, no caso da soja em grão, ao redor de 15,5 milhões de toneladas, repetindo praticamente o volume de 2004/05 e diminuindo consideravelmente as compras em relação as 18,5 milhões de toneladas registradas em 2001/02. O esmagamento europeu, em soja, está estimado em 14,3 milhões de toneladas contra 17,6 milhões em 2001/02 e 14 milhões em 2004/05.

Destaca-se ainda o fato de que a produção mundial de girassol estar projetada em 28,2 milhões de toneladas, contra 26,2 milhões em 2004/05. Já em colza, a produção mundial é apontada em leve redução, a 45 milhões de toneladas contra 46,1 milhões em 2004/05. Dito isto, o Canadá aponta para uma produção de 8,2 milhões de toneladas de canola, após 7,7 milhões em 2004/05. Deste total, 4,6 milhões de toneladas deverão ser exportados. Os três principais compradores canadenses são, pela ordem: Japão, México e China.

Já o esmagamento mundial das 10 maiores oleaginosas deverá atingir 316,8 milhões de toneladas em 2005/06, após 304,4 milhões no ano anterior. Deste total, a soja contribuirá com 186,8 milhões de toneladas contra 177,8 milhões em 2004/05.

Na área dos óleos vegetais e gorduras, temos que a China projeta importar, em 2005/06, um total de 8,1 milhões de toneladas no conjunto dos 17 principais produtos mundiais, sendo 2,18 milhões em óleo de soja. Ao mesmo tempo, sua produção local destes 17 produtos chegaria a 18,9 milhões de toneladas contra 18,3 milhões em 2004/05. A maior importação será em óleo de palma, com 4,8 milhões de toneladas. Ou seja, mais do que o dobro do importado em óleo de soja. Paralelamente, o consumo interno dos 17 produtos chegaria a 26,9 milhões de toneladas, após 25,4 milhões em 2004/05, sendo 7,8 milhões em óleo de soja, contra 4,88 milhões em óleo de palma. Isto, graças à forte trituração interna de soja que a China desenvolve atualmente. Em 2004/05 o consumo de óleo de soja foi de 7,2 milhões de toneladas contra 4,3 milhões em óleo de palma.

Já a Índia teria importado, entre outubro/04 e agosto/05, um total de 1,75 milhão de toneladas em óleo de soja e 3,13 milhões em óleo de palma, de um total de 5,0 milhões no conjunto dos seis principais óleos vegetais (soja, palma, girassol, colza, algodão e caroço de palma). Sua produção, no total dos 17 principais óleos e gorduras, chegaria a 8,3 milhões de toneladas em 2005/06, após 7,8 milhões um ano antes. O consumo projetado para este novo ano comercial é de 13,2 milhões de toneladas contra 12,8 milhões em 2004/05. Nos últimos cinco anos, o consumo por habitante está relativamente estacionado ao redor de 11,5 litros, podendo chegar a 11,9 litros em 2005/06.

Na área dos farelos, os 12 principais produtos mundiais somariam um total produzido de 243,3 milhões de toneladas em 2005/06, após 233,7 milhões um ano antes, para um consumo projetado em 242,9 milhões de toneladas. Lembramos que em 2001/02 a produção total era de 210,8 milhões de toneladas para um consumo mundial total de 210,6 milhões. Deste total, o farelo de soja participará com 148 milhões de toneladas, após 140,9 milhões em 2004/05 e 127 milhões em 2001/02. O consumo, para 2005/06, está projetado em 147,5 milhões de toneladas, após 139,8 milhões um ano antes.

Pelo lado das importações, projetam-se compras ao redor de 32,3 milhões de toneladas, no somatório dos 12 principais farelos, junto a União Européia (25 países), após 31,8 milhões no ano de 2004/05. Deste total, o farelo de soja contribuirá com 23,6 milhões de toneladas, após 23,4 milhões. Já a produção européia destes farelos somaria um total de 25,4 milhões de toneladas em 2005/06, sendo 11,3 milhões em farelo de soja. O consumo total dos 12 farelos chegaria a 56,8 milhões de toneladas, sendo 34,5 milhões em farelo de soja, após 55,6 milhões em 2004/05, com 34,2 milhões em farelo de soja.

A China, por sua vez, para 2005/06, deverá produzir 45,1 milhões de toneladas dos 12 farelos considerados, sendo 27 milhões em farelo de soja. Seu consumo interno somaria 45,6 milhões de toneladas, sendo 26,2 milhões em farelo de soja. No ano anterior, sua produção seria de 43 milhões e seu consumo total de 43,4 milhões de toneladas, sendo que o farelo de soja respondia por respectivamente 24,6 e 23,6 milhões de toneladas. Na prática, a produção e o consumo de farelo de soja é o que mais cresce na China neste novo século, nesta área.

Enfim, em tempos de forte debate em torno do biocombustível, a União Européia projeta produzir, em 2006, um total de 4,2 milhões de toneladas de biodiesel, após 3,72 milhões em 2005 e 1,9 milhão em 2002. No mercado interno brasileiro, os preços continuam muito baixos e em recuo, puxados por Chicago e pelo câmbio, que não pára de valorizar o real. Na semana chegamos a ver uma cotação em R$ 2,23, com o fechamento de quinta-feira (29) ficando em tão somente R$ 2,21 (o maior valor do real em relação ao dólar, desde 27 de abril de 2001).

A média gaúcha, no balcão, fechou a semana em R$ 25,20/saco enquanto os lotes fecharam na média de R$ 28,00/saco. No restante do país, os mesmos variaram entre um mínimo de R$ 21,30/saco em Barreiras (BA) a R$ 29,06/saco em Cascavel (PR), conforme o quadro estatístico acima. Em permanecendo tais condições em Chicago e no câmbio, a tendência continua sendo de preços baixos, com um horizonte apontando para R$ 20,00/saco no forte da colheita gaúcha (abril/maio), no balcão.

No mercado do farelo, o FOB interior paulista ficou em R$ 465,00/tonelada à vista, enquanto no Paraná o mesmo chegou a R$ 460,00. Em Goiás, o produto FOB chegou a R$ 435,00/tonelada enquanto o hipro no Rio Grande do Sul registrou R$ 500,00/tonelada no interior, com pagamento em 30 dias. No mercado do óleo de soja, o CIF São Paulo bateu em R$ 1.150,00/tonelada, com 12% de ICMS e 30 dias para pagamento. Já no Rio Grande do Sul, nas mesmas condições, o produto registrou R$ 1.190,00/tonelada na compra (cf. Safras & Mercado).

Enfim, os produtores rurais de todo o país continuam apontando para a falta de uma política agrícola coerente e de longo prazo para o país, sendo que existiria um grande desinteresse quanto a crise vivida atualmente pelo setor. O volume de crédito para custeio (25% abaixo do registrado em 2004, particularmente no Mato Grosso), e seu custo, realmente acessíveis para os produtores estariam corroborando tal realidade.

Enquanto isto, o Ministério da Agricultura brasileiro concedeu o registro ao glifosato genérico, produto mais barato do que o convencional. Ao fazer isto, o governo responde favoravelmente a uma reivindicação do agronegócio nacional.

Por outro lado, na área dos produtos transgênicos em geral e da soja transgênica em particular, aquilo que apontamos há anos, acaba de ser confirmado pelo economista inglês Graham Brookes, por ocasião do 4o Congresso Nacional de Biossegurança, que se desenvolveu nesta semana em Porto Alegre. Ou seja, o mercado europeu para tais produtos é um mito e não passará de um nicho nos próximos anos, embora ainda hoje, em alguns locais, exista ainda bastante resistência a tais produtos.