PUBLICIDADE
CREMER2024 CREMER2024
Biodiesel

Álcool combustível, biodiesel e meio ambiente


Jornal A Cidade – Ribeirão Preto/SP - Paulo Finotti - 29 nov 1999 - 22:00 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:21

A tecnologia automotiva avança a passos largos; veículos depois do “Programa de Controle de Poluição do Ar por Veículos Automotores - PROCONVE”, resultado inicial da Resolução nº18, de 06 de maio de 1986, do Conselho Nacional do Meio Ambiente-CONAMA, entre outras normatizações, reduziram drasticamente a emissão de poluentes.

Houve um aumento considerável de potência, utilizando-se motores de mesma cilindrada de décadas anteriores, novos materiais, ambientalmente menos poluentes estão substituindo derivados de petróleo e combustíveis alternativos e, novas matrizes energéticas, particularmente oriundas da biomassa, aqui no país, também substituem combustíveis fósseis. Repetindo: - A tecnologia automotiva avança a passos largos!

Neste momento, surge uma pergunta: - Será que a matriz energética oriunda da nossa biomassa, entendendo-se como tal a cultura da cana-de-açúcar, produtora de nossos combustíveis tupiniquins, o álcool hidratado e o álcool anidro, e agora a cultura de oleaginosas (soja, mamona, girassol etc), também acompanha o sucesso tecnológico? Favorável e, porque não um grande incentivador dos programas iniciados com o falecido “Pró-álcool”e agora o do Biodiesel, seja como profissional de Química ou Ambientalista, comecei a me preocupar com a evolução tecnológica do setor mecânico e do agrícola, tomando, então a liberdade de externar tal preocupação.

Iniciemos pelo álcool combustível, já que é conhecido há algumas décadas como “combustível limpo”, o que realmente, levando em conta as emissões poluentes dos demais combustíveis fósseis, inquestionavelmente o é.

No entanto para a sua produção com o plantio da cana-de-açúcar e todos os agrotóxicos envolvidos, passando pelo que se conhece como fertirrigação , quando o vinhoto é lançado na cultura, completando com a colheita cujo processo de queimadas é cultural, inclusive na cabeça do poder público (para não se falar dos lobbies que causam tal problema), ocorrem diversos tipos de degradação do solo, lançamento de efluentes nocivos ao meio ambiente em cursos d’água, alteração de temperatura de pequenos córregos, arroios e assemelhados, armazenagem de material que por provável acidente é extremamente poluidor ( vinhaça, melaço e resíduos do esmagamento da cana-de-açúcar ), para não entrar nos detalhes de ordem técnica, como as operações unitárias, onde há um elevado consumo de água e emissão de efluentes líquidos que causam elevados impactos ambientais negativos.

Deixei as queimadas por último, pois estas são uma tamanha aberração em termos de “naufrágio”de nossa biodiversidade, se é possível havê-la em monoculturas, causando poluições atmosféricas de extrema gravidade.

Por falar em álcool combustível obtido da cana-de-açúcar, o lucro a curto prazo que seus produtores e refinadores conseguem com ele, faz com que o setor produtivo e o poder público se esqueçam de mais de noventa sub-produtos químicos de elevado poder agregado, na maioria importados, que poderiam ser obtidos com o desenvolvimento de um sistema paralelo de química fina!

Vejamos o Biodiesel; idéia excelente, com um elevado valor agregado, permitindo a criação de quantidade avantajada de empregos, seja na plantação, colheita, extração ou química de produção. No entanto, peca por não haver a normatização do processo de extrativismo que vem por aí!

As oleaginosas poderão ser transformadas em monoculturas altamente dispendiosas, alimentadas, como tal, por toda a sorte de agrotóxicos e defensivos agrícolas e, ainda, para não dizer da degradação dos resquícios da Mata Atlântica e a interface entre o Cerrado Amazônico e a Selva Amazônica, que podem se transformar em agricultura de oleaginosas.

Por outro lado, aqui vai outro alerta: por intermédio da tecnologia dos transgênicos, que começou com a soja, logo passará para o milho, e assim por diante, há uma possibilidade real de nossa completa dependência tecnológica junto as mutinacionais.

É importante que se repita: ambos os programas, o do álcool combustível e o do Biodiesel, são excelentes. Acreditamos, no entanto, que o passivo ambiental que possa por eles ser deixado, face à ausência de acompanhamento há décadas do primeiro e a não expectativa de acompanhamento e normatização agricultável por parte do segundo, bem como a inexistência de um acompanhamento calcado em uma política sustentável mais eficiente do local de plantio à colheita e transformações, seja da cana-de-açúcar ou de oleaginosas, poderão causar situações não previstas no balanço energético e lançamento de passivos ambientais.

Acreditamos estar no momento em que instituições de ensino e pesquisa, órgãos oficiais, como a EMBRAPA, Instituto Agronômico de Campinas e outros, espalhados pelos rincões nacionais devam analisar o balanço energético, material e a relação custo/benefício, levando em conta ambas as matrizes energéticas, para verificar a viabilidade e possíveis alterações dos programas.

É importante, também, que do plantio à produção final, novas tecnologias sejam introduzidas para que tenhamos uma P + L (Produção mais Limpa), objeto da maioria dos programas mundiais de sustentabilidade e de melhoria de qualidade de vida.

Vamos iniciar nossa reorganização das políticas ambientais e energéticas. Para tanto há necessidade de redimencionamento científico, ético ambiental e produtivo de ambos os programas: do álcool combustível e do Biodiesel. O primeiro já existe.

O segundo está nascendo inclusive junto ao álcool para formar maravilhas! Com a palavra, aqueles que estão de plantão no poder e os cientistas, principalmente aqueles que têm hoje títulos de mestre, doutor, phd e assemelhados, as custas da “Viúva”.