PUBLICIDADE
CREMER2024 CREMER2024
Bioquerosene

Os aviões vão voar com biocombustíveis, diz presidente da Boeing


IstoÉ Dinheiro - 07 jul 2014 - 18:26 - Última atualização em: 29 nov -1 - 20:53
BoeingBioQAV 070714
A Boeing quer voar mais alto com novos biocombustíveis de biomassa. Por isso, a fabricante americana de aviões tem feito testes que revelam que é possível depender cada vez menos de derivados de petróleo para atravessar o mundo pelos ares. O resultado é economia para as companhias aéreas e, consequentemente, para os passageiros. Dona de um faturamento de US$ 86 bilhões, a empresa investe 2,5% desse total em pesquisa e em desenvolvimento, somente no Reino Unido. É de lá que sir Roger Bone pilota a companhia, que tem recebido mais e mais pedidos de aviões vindos, principalmente, da Ásia. Até 2005 quando foi escolhido para assumir o cargo na companhia, sir Roger era embaixador da coroa britânica, o que acabou por lhe render o título nobiliárquico. Ao longo de 38 anos, ele serviu em diversos países, inclusive no Brasil, entre 1999 e 2004. Em 2010, assumiu outra função, a pedido do primeiro-ministro: embaixador de negócios britânicos, que tem como missão atrair capital externo para a Inglaterra. Foi com esse quepe que sir Roger aterrissou no País.

DINHEIRO – A demanda por aviões no Reino Unido e na Europa tem crescido? Por quê?
SIR ROGER BONE – A demanda por aviões é enorme. Acreditamos que nos próximos 20 anos o mundo vai precisar de 35 mil novos aparelhos – não apenas da Boeing, mas de todas as fabricantes. Há duas razões para isso. Uma delas é que as companhias aéreas estão renovando as suas frotas. Depois de 11 de setembro de 2001, nos Estados Unidos, a aviação comercial sofreu um revés. O número de passageiros caiu e as compras de aeronaves desabaram. Treze anos depois da tragédia, as encomendas estão voltando a crescer. Além disso, a demanda da região Ásia-Pacífico é enorme. Já a segunda razão tem a ver com redução de custos. As companhias aéreas querem comprar aviões mais leves, que consumam menos combustível e que sejam mais fáceis de pilotar e de manter. Estamos investindo nisso, lançando um modelo, novo, feito com fibra de carbono. Isso torna a aeronave mais leve, que consome 20% menos de combustível.

DINHEIRO – Além de aviões mais leves, que outras mudanças tecnológicas o setor deverá vivenciar nos próximos 20 anos?
SIR ROGER – Queremos trazer eficiência para a fabricação e estamos desenvolvendo tanto biocombustíveis quanto tecnologias para seu uso nos aviões. Não vamos ser uma empresa produtora de biocombustíveis, mas estamos desenvolvendo pesquisas para isso. Já fizemos testes com aviões que voaram com metade do tanque cheio de biocombustível e a outra com querosene. E funcionou perfeitamente bem. Sem falar que esse é um combustível mais amigável em termos ambientais. O problema é como obter uma produção com escala grande o suficiente para justificar o investimento. Nós não vamos produzir o combustível, mas estamos ajudando a desenvolver a solução. Já no que se refere a materiais, estudamos tudo o que pode tornar o avião mais leve e mais rápido. Também temos como meta transformar a experiência de voar cada vez mais agradável para o passageiro. Quando se constrói um avião com fibra de carbono, consegue-se simular uma altitude mais baixa do que a que realmente se está viajando. Então, mesmo se a pessoa viaja por dez horas, a sensação de jet lag é pequena. 

DINHEIRO – O sr. foi embaixador britânico no Brasil ao longo de cinco anos, de 1999 até 2004. Qual é a sua opinião sobre o País dos últimos dez anos?
SIR ROGER – É ótimo estar de volta, eu sinto muita falta daqui. Infelizmente, o meu trabalho é no Reino Unido e tem ligação com os Estados Unidos. Então, tenho poucas desculpas para voltar para cá (risos). Há dez anos, quando morei no Brasil, as dificuldades provocadas pela hiperinflação ainda estavam bem vivas na memória. Estive aqui durante a presidência de Fernando Henrique Cardoso, quando o real se tornou estável. Foi o início de um processo de construção da confiança internacional em relação à economia brasileira. Eu me lembro de ter visto um enorme otimismo sobre o futuro do Brasil. Passados 20 anos, é bom ver que o Real levou o País à direção certa. Há enorme interesse internacional no Brasil, seja em Londres, seja nas maiores capitais do mundo. Todos querem saber o que o Brasil está fazendo. O País está se tornando uma das maiores economias do mundo, o que obriga os demais países a se esforçarem mais por entender o que ocorre aqui. O Brasil está ganhando uma presença no cenário internacional que não tinha antes. É um ótimo momento para ser brasileiro.

DINHEIRO – Esse interesse se traduz em novos negócios?
SIR ROGER – Sem dúvida, há um interesse crescente dos estrangeiros de vir para cá. Na última década, houve um aumento considerável no investimento em energia, assim como nos manufaturados do Reino Unido. Os ingleses entendem que o Brasil é um enorme mercado potencial e é um dos lugares para se prestar atenção. O problema é que abrir um negócio aqui não é fácil. É mais complicado do que deveria ser. Acho que o Brasil deveria fazer com que as empresas se sentissem mais bem-vindas por estar no País.

DINHEIRO – O desaquecimento econômico não preocupa?
SIR ROGER – As companhias olham o longo prazo quando decidem investir em um novo mercado. Todos os países vivem períodos de vicissitudes, de altos e baixos. Mas, se olharmos a direção do que o Brasil tem feito nos últimos anos, verificamos que ainda é uma força positiva. Se eu tivesse um negócio e quisesse entrar no País, não desistiria por causa de questões circunstanciais.

DINHEIRO – Então, se a situação econômica não é a questão, quais são as maiores barreiras para a entrada das empresas no Brasil?
SIR ROGER – A maior barreira é a questão regulatória. Ninguém entende como funciona a tributação no Brasil. Além disso, abrir uma companhia é complicado: enquanto na Grã-Bretanha é possível abrir uma empresa em menos de 24 horas, no Brasil, demora muito mais do que isso.

DINHEIRO – Como a crise econômica afetou o intercâmbio de empresas?
SIR ROGER – A crise econômica de 2009 a 2012 afetou os negócios, a produtividade, o emprego. Mas se você tem confiança na sua visão, no projeto e na capacidade de seu produto ser aceito em outras culturas, então os momentos difíceis podem se tornar uma janela de oportunidade para se estabelecer. Ou seja, as empresas precisam estar prontas para quando o melhor momento aparecer. 

DINHEIRO – Vamos falar sobre o caminho contrário. Por que é importante para uma empresa brasileira ter uma operação no Reino Unido?
SIR ROGER – Acredito que a Grã-Bretanha é um lugar interessante de se estar porque tem impostos corporativos mais baixos que os outros países do G7 ou até do G20. Isso é atraente. Além disso, a localização geográfica é privilegiada. É a porta de entrada para a Europa, sem falar que Londres é um dos maiores mercados financeiros do mundo. Tanto é que os maiores bancos brasileiros estão em Londres, incluindo o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que também está em Nova York e em Montevidéu.

DINHEIRO – O que a Grã-Bretanha ganha com a entrada de empresas estrangeiras?
SIR ROGER – A Grã-Bretanha sempre precisou de investimentos para crescer, isso faz parte da nossa história. Somos um pequeno país, uma pequena ilha. Precisamos fazer negócios com o restante do mundo. Já o Brasil tem um enorme mercado doméstico. Isso significa que vocês precisam fazer um esforço maior para pensar em internacionalização. Não é o caso dos ingleses. Para a gente, é algo natural, faz parte do crescimento de nossas empresas.

DINHEIRO – Estamos falando de companhias de que porte?
SIR ROGER – Não é uma questão de tamanho e, sim, de confiança para se internacionalizar. Ou seja, não precisa ser uma megacompanhia, significa que precisa ter um quê competitivo. As empresas que possuem essas características podem crescer bastante. Dias atrás, eu estive com o empresário Ivan Esteban Cisneros Zorn, da Toys Talk, uma fabricante de brinquedos. Ele é um excelente empreendedor. A empresa faz o design dos brinquedos em Belo Hori¬zonte, fabrica o produto na China e tem um distribuidor de varejo no Reino Unido. É perfeito, é a fórmula ideal para crescer. Esse é o espírito. Mas é claro que se a empresa é grande tem mais musculatura para se in¬-ternacionalizar.

DINHEIRO – Por falar em empresas grandes, como é presidir uma gigante como a Boeing fora dos Estados Unidos?
SIR ROGER – A Boeing é uma empresa que aprendeu a ser global. Temos escritórios em várias partes do mundo, mas nos tornarmos parte do cenário local. Isso significa que, no Reino Unido, somos uma companhia britânica. Esse é o segredo. Não somos uma simples extensão da matriz: somos uma empresa que quer fazer parte do país. Tanto é que, somente no Reino Unido, investimos de US$ 1,8 bilhão a US$ 2 bilhões em desenvolvimento e pesquisa, anualmente. Com isso, vem a responsabilidade social. Então, investimos em projetos sociais, principalmente no sistema educacional de Londres.