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Relatório da FAO vincula biocombustíveis a preço dos alimentos


BiodieselBR.com - 08 ago 2011 - 06:39 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:17

O debate alimento versus combustível acaba de ganhar um novo capítulo.

Por anos culpou-se a classe média em expansão dos países asiáticos de elevar o custo da comida e criar mercados voláteis, levando os preços a atingirem níveis recordes por duas vezes nos últimos quatro anos.

Mas, de acordo com uma nova pesquisa da FAO, órgão para agricultura e alimentação das Nações Unidas (ONU), a destinação crescente de grãos e oleaginosas para a fabricação de combustível – particularmente nos Estados Unidos e na Europa, que gastam estimados US$ 8 bilhões por ano em auxílio a suas indústrias de biocombustível – teve um efeito bem maior.

Um novo relatório do Comitê de Segurança Alimentar Mundial (CFS) descobriu que o uso de grãos como milho e trigo para criar bioetanol – normalmente misturado à gasolina usada no transporte – foi responsável por acrescentar 0,5 ponto percentual ao crescimento anual da demanda mundial por cereais, elevando este crescimento de 1,3% para 1,8% ao ano.

No caso dos óleos vegetais, que dominam o mercado europeu e são usados para fazer biodiesel, o crescimento foi ainda mais pronunciado. Embora o uso para alimentação tenha desacelerado ao longo da década de 90, passando de 4,4% para 3,3% ao ano, o uso industrial disparou desde 2000, crescendo de 11% para 24% do uso mundial.

“Este desenvolvimento espetacular da indústria de biocombustíveis só foi possível graças a uma enorme quantidade de incentivo público: subsídios, isenções fiscais e mistura obrigatória na gasolina”, diz o relatório.

Ao contrário do que geralmente se acredita, a taxa de consumo de rações está na verdade diminuindo no mundo (exceto na ex-União Soviética, cuja pecuária ainda se recupera do baque do comunismo), apesar do salto na demanda de carne na Ásia.

O argumento parece ilógico à primeira vista. A forte expansão da China e da Índia, que juntas possuem quase 40% da população mundial, cria constantemente um número infindável de bocas para alimentar.  E o crescimento dessas economias também está criando uma demanda maior por carne, que precisa de até oito vezes mais grão por quilo para ser produzida.

Ainda assim, o relatório aponta que a demanda nas economias ricas é bem menos elástica que em países em desenvolvimento, pois a proporção dos gastos com comida no orçamento das famílias é bem menor. Como resultado, entende-se que o crescimento do consumo nos países ricos é um fator muito mais relevante na geração de volatilidade, já que não reage ao aumento dos preços na mesma medida.

Daí a conclusão do relatório de que “limitar o uso de alimentos para a produção de biocombustíveis é o primeiro objetivo a ser buscado para conter a demanda.” Outra é que os alimentos destinados à fabricação de combustível devem ser produzidos “em locais onde sejam viáveis do ponto de vista econômico, ambiental e social, e comercializados com maior liberdade”.

Não é a primeira vez que a ONU se opõe ao uso de biocombustíveis. Em relatório publicado em junho por ocasião de uma reunião entre ministros da agricultura dos países do G20 (preparado em conjunto com o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional), a FAO havia conclamado o grupo a “remover... políticas que subsidiem ou obriguem a produção ou consumo de biocombustíveis”.

A nova recomendação vem num momento em que Estados Unidos e União Europeia estão reconsiderando seus programas de biocombustíveis. Eles são vistos como fatores em potencial para o encarecimento dos alimentos e sua credibilidade ambiental é cada vez mais questionada.

“O possível fim das reservas de combustíveis fósseis, ou a necessidade de restringi-los por conta da mudança climática, é hoje um novo divisor de águas para as sociedades industrializadas”, diz o relatório. Nossa economia global dependente do petróleo está finalmente percebendo que precisará mudar, e rápido. Mas com mais gente para alimentar e o mercado de alimentos já acusando o golpe, o abastecimento do mundo desenvolvido não poderá ser feito à custa da alimentação dos pobres.

Fonte: Wall Street Journal
Tradução BiodieselBR.com

Tags: Alimento