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Miguel Angelo

Lobby contra lobby


Miguel Angelo Vedana - BiodieselBR - 12 mar 2012 - 00:29 - Última atualização em: 12 mar 2012 - 11:01
posto gasolina
Algum tempo atrás usei este espaço para criticar duramente as usinas de biodiesel por não estarem sendo honestas nos seus argumentos. A estratégia dificultava a negociação para criação de um novo marco regulatório. Este texto está disponível aqui. Dessa vez acredito que quem passou da razoabilidade foi a Fecombustíveis, com o artigo “Será que todos estão surdos?”.

O presidente da Fecombustíveis assina um artigo onde critica as usinas de biodiesel por, resumidamente, trabalhar para aumentar a mistura de biodiesel e por estas não estarem dispostas a mudar a especificação de biodiesel, apesar de dizerem publicamente o contrário.

As críticas até poderiam ser consideradas duras, se não tivessem ultrapassadas.

A qualidade do biodiesel está na mão da ANP. Tudo que podia ser falado e discutido sobre o assunto tinha até o dia da audiência pública para sê-lo. Falar sobre a questão do teor de água ou ponto de entupimento nesse momento não contribui. A ANP colheu todas as sugestões e deve apresentar o novo padrão do biodiesel logo. Requentar este assunto me deixa com a impressão que faltam argumentos contra os fabricantes de biodiesel.

Quanto ao lobby das usinas para aumentar a mistura, ele realmente acontece e não é de hoje. Este assunto não é nenhuma novidade. Desde 2010 o setor produtivo vem pedindo isso ao governo. Embora eu acredite que a repetição de que deve haver o aumento da mistura, como se fosse um mantra, não vai levá-las a lugar algum, como já expliquei aqui

Não nos esqueçamos que o setor de etanol briga para aumentar o percentual de etanol na gasolina, para diminuir os impostos e aumentar as linhas de financiamentos constantemente. Esse tipo de luta de um setor é absolutamente legítima e acontece em todas as áreas. É o lobby da Fecombustíveis atacando o lobby das usinas, por isso é preciso ter um olhar cauteloso. O governo é que vai analisar os argumentos e precisa ter pulso para saber qual das pretensões é mais interessante para a nação.

Exportação
Por outro lado o presidente da Fecombustíveis levanta um ponto interessante sobre a exportação. O envio de um produto final como o biodiesel para fora do país é algo que não aparece na lista de prioridades das usinas. Talvez se dedicassem tanta energia para facilitar as exportações de biodiesel, já teriam aberto um mercado maior que o atual B5.

Como presidente de uma entidade que representa mais de 30 mil postos de combustíveis, Paulo Miranda assina o artigo para esse público. São donos de postos que tiveram problemas depois que a mistura de biodiesel entrou em vigor. Alguns desses postos não estavam acostumados a seguir as práticas de manuseio editadas pela ANP e a chegada do biodiesel evidenciou esse problema.

Dúvida
A Fecombustíveis deve ter tido acesso ao relatório da ANP que avaliou os problemas da qualidade ao longo da cadeia. Porque a entidade não divulga esse relatório completo?

Miguel Angelo Vedana é diretor-executivo da BiodieselBR e faz parte do conselho editorial da revista BiodieselBR.