Diesel Renovável

// 06 abril 2009 // Pesquisas

Refinaria Neste OilEnquanto o biodiesel, na prática, ésteres metílicos ou etílicos de ácidos graxos, possui propriedades similares ao diesel de petróleo, uma nova modalidade ainda mais semelhante, torna-se cada vez mais comum em várias partes do mundo, o “Renewable Diesel” (Diesel Renovável).

Embora sua principal matéria-prima sejam óleos, gorduras e ácidos graxos derivados desses, o Diesel Renovável é quimicamente composto de hidrocarbonetos, exatamente como o diesel de petróleo.

Grandes Plantas Industriais estão em construção. A Conoco-Philips inaugura esse ano sua planta nos EUA, em parceria com a Tyson Foods com capacidade de 600 milhões de litros/ano.

Em Singapura, está previsto para 2010 a partida de uma planta de mais de 800 milhões de litros/ano com tecnologia da finlandesa, Neste Oil.

Esses processos se assemelham ao processo “Green Diesel” da UOP (que está montando uma planta em parceria com a Eni, italiana) e ao “Iso Diesel” da empresa israelense Ormat. Em todos os casos utilizam-se hidrogênio para remover os átomos de oxigênio presentes nos óleos, gorduras e ácidos graxos, transformando esses insumos em hidrocarbonetos. Sim, esse princípio é o mesmo adotado no Brasil pela Petrobras (H-Bio). A diferença é que o H-Bio era gerado num co-processamento com frações derivadas de petróleo. O NREL (EUA) faz distinção explícita entre os produtos co-processados e os renováveis puros. O Diesel Renovável faz jus (como o biodiesel) ao subsídio de US$ 1/galão. Os produtos de co-processamento não. Em termos de qualidade, basta atender a especificação do diesel, ASTM D975, afinal de contas, são hidrocarbonetos. Portanto, a legislação americana encontra-se pronta para o diesel renovável.

E no Brasil? Como seria o enquadramento do Diesel Renovável? Bem, de acordo com a Lei nº 11097, o Diesel Renovável também é biodiesel “biocombustível derivado de biomassa renovável para uso em motores a combustão interna com ignição”. Só que, na especificação de qualidade, a ANP estabelece (através da Resolução nº 7 de 2008) que biodiesel são ésteres. Apesar de uma Lei possuir força superior ao de uma resolução, seria prudente a ANP se pronunciar quanto a especificação do diesel renovável no Brasil, o que provavelmente será similar ao diesel de petróleo.

Outros processos fazem uso de gaseificação ou pirólise de biomassa. No primeiro caso, gera-se gás de síntese (mistura de CO e H2), em seguida esses gases são transformados em diesel pelo processo Fischer-Tropsch. Já na pirólise de biomassa, obtém-se bio-óleo (um líquido negro, bastante viscoso, similar ao petróleo mas com elevado teor de oxigênio). Esse composto pode ser hidrotratado, craqueado ou até gaseificado como propõe o processo Lurgi.

Certamente esses processos são bem mais caros que os métodos convencionais de produção de biodiesel. A grande vantagem é a utilização de matéria-prima bem mais barata e sem competição com os alimentos.

Do mesmo modo que temos mais de um tipo de diesel no Brasil (diesel metropolitano, diesel do interior, diesel marítimo), o biodiesel poderia ser comercializado sob a forma de mais de um tipo (ésteres ou hidrocarbonetos). Os marcadores já adotados no caso do biodiesel convencional seriam também adotados pelos produtores de diesel renovável pondo assim um controle sobre eventuais problemas de fraude.

Esperamos que não ocorram exigências descabidas por parte do setor de auto-peças e montadoras. Tratando-se de hidrocarbonetos que atendem a especificação vigente para diesel não há porque haver exageros quanto a testes em frotas ou ameaças de perda de garantia. O Brasil não pode ficar atrás com respeito a implementação em grande escala dessas tecnologias. Qualquer que seja a rota, qualquer que seja a matéria-prima, temos todas as condições de prover biomassa e resíduos oleaginosos a preços competitivos para essas indústrias se instalarem no país.

Para isso, temos que aplainar as exigências burocráticas a fim de lograr mais intensamente a geração de emprego e renda no campo através do uso de combustíveis renováveis de forma plural e amplificada.

Donato Aranda

Catálogo do biodiesel 2010



5 Comentários em “Diesel Renovável”

  1. Biomaza disse:

    Prezado Dr Donato ,

    Parabéns pela matéria.

    Gostaria de sugerir uma discussão a respeito do fim do leilão, pois com a ultima da Petrobrás de ofertar biodiesel a 1,70 o que qualquer um que conhece óleo vegetal sabe que seria inviável conseguir óleo vegetal a este preço, acredito que falta um pouco de pressão por parte dos produtores de biodiesel para o fim do leilão, vale até lançar uma campanha para tal, espero comentários para ver se o meu ponto de vista está alinhando com os demais.

    Um abraço
    Iderlon Azevedo

  2. Carlos Eduardo disse:

    Iderlon,

    Dê uma olhada na página abaixo que trata extamente deste assunto. O trabalho fez uma pesquisa com todas as usinas de biodiesel para saber sobre a continuidade ou não dos leilões:
    http://www.biodieselbr.com/revista/009/radiografia-do-setor-1.htm

  3. Apesar de todos os novos processos de obtenção de biocombustíveis,vejo os atuais de esterificação/transesterificação, como os preponderantes ainda por muito tempo,dada a simplicidade e fácil manipulação dos processos.

    Se considerarmos ainda que existe uma tendência à reciclagem dos óleos vegetais usados e sebo bovino,esta preponderância é ainda mais evidente.

    [email protected]

  4. […] finlandesa Neste Oil estão sim na fase comercial (como já apresentado aqui nesse espaço, no post Diesel Renovável) mas assustam ainda com um CAPEX muito elevado. Na área de glicerol, a diversidade de opções é […]

  5. […] ou seja, o diesel produzido a partir de biomassa por pirólise, gaseificação ou hidrotratamento (leia mais aqui). O incentivo federal é de US$ 1,00 por galão (US$ 264 por metro cúbico), e existe também um […]

Deixe o seu comentário