PUBLICIDADE
CREMER2024 CREMER2024
retrospectiva

Retrospectiva 2007: Mundo


BiodieselBR.com - 13 jan 2008 - 16:26 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:23

Apesar da disparada nos preços internacionais do petróleo, a indústria mundial do biodiesel não teve um 2007 fácil, embora tenha alcançado recordes de produção. Um relatório publicado no final do ano pela consultoria Ernst & Young confirmou que o setor cresceu menos no segundo semestre, reflexo principalmente da alta dos preços de grãos ao longo do ano.

Estados Unidos, União Européia e Argentina foram os destaques internacionais do ano – os dois primeiros por conta da crise enfrentada por suas indústrias de biodiesel, já o último pelo clima de euforia que tomou conta dos usineiros locais.

Logo no início do ano, a União Européia convocou os 27 países membros a substituir por biocombustíveis até 2020 pelo menos 10% do volume de combustíveis fósseis usados em veículos. Parece ter sido a única boa notícia no ano para a indústria de biodiesel do bloco.

Em fevereiro, começaram a aparecer sinais de que o setor entrava em crise. Foi quando a petrolífera francesa Total e a refinaria Neste, que ambiciona tornar-se a maior de biodiesel da Europa, desistiram dos planos para construir uma usina do combustível, com capacidade de produzir 240 milhões de litros por ano.

Ainda em fevereiro, a maior usina de biodiesel do Reino Unido, controlada pela Biofuels, admitiu que operava com apenas metade da capacidade e que procurava mais financiamento. Na Alemanha, maior mercado de biodiesel da Europa, a demanda já tinha caído mais de 30% só nos dois primeiros meses do ano, depois de o governo ter aplicado impostos sobre o biocombustível.

O cenário na Alemanha só piorou ao longo do ano. Apesar de ter dito em novembro que pretende incrementar o uso de biocombustível em misturas, o governo alemão não quis abrir mão do aumento de taxas sobre os biocombustíveis. Grupos da indústria estimam que a indústria alemã do biodiesel passou 2007 produzindo cerca de 20% de sua capacidade em virtude dos impostos.

Para piorar, a União Européia teve de enfrentar a concorrência dos Estados Unidos, que tem subsídios dados à produção de biodiesel. Em outubro, o bloco foi à Organização Mundial do Comércio (OMC) reclamar que a exportação americana para a UE, deprime os preços e leva produtores europeus a abandonar a produção.

Segundo o Conselho do Biodiesel Europeu (EBB, na sigla em inglês), os subsídios americanos a sua indústria permitirão um aumento de até 10 vezes das exportações do combustível para a Europa. O EBB intimou o Congresso dos Estados Unidos a interromper o programa que dá aos produtores cerca de 200 euros por tonelada de biodiesel B99 (99% de óleo vegetal e 1% de óleo diesel), algumas vezes vendido na Europa abaixo do preço de custo das matérias-primas para a produção local.

Em março, a entidade já havia divulgado uma carta-protesto na qual afirmava que em janeiro de 2007, os EUA exportaram 33,6 milhões de litros de biodiesel para a UE. E, em dezembro, as companhias européias decidiram abrir uma queixa junto à Comissão Européia, órgão executivo da União Européia, contra os subsídios que os americanos concedem às exportações do produto.

O governo dos EUA oferece subsídios de US$ 1 por galão de biodiesel (3,8 litros) produzido. Apesar disso – e da aprovação da nova lei energética do país que obriga a adição de 1,9 bilhão de litros de biodiesel ao diesel mineral em 2009 – o ano também foi cheio de percalços para os usineiros americanos.

  A produção de biodiesel dos EUA cresceu de 950 milhões de litros produzidos em 2006 para 1,5 bilhão de litros em 2007


A produção cresceu – de 950 milhões de litros produzidos em 2006 para 1,5 bilhão de litros em 2007 –, mesmo assim, por causa do forte aumento do preço das matérias-primas, da demanda insuficiente e de problemas na distribuição, a indústria de biodiesel americana operou em apenas 22% de sua capacidade de 7 bilhões de litros anuais.

Duas empresas, porém, destoaram do cenário desanimador no começo do ano. Em março, a Chevron Corp, uma das principais petroleiras dos Estados Unidos, anunciou sua entrada no mercado do biodiesel com planos de produzir 76 milhões de litros por ano à base de óleo de soja.

Em maio, a Imperium Renewables registrou planos para lançar ações na bolsa, anunciou a construção de três novas usinas e disse que sua estratégia era tornar-se o maior produtor de biodiesel dos Estados Unidos em 2007. Mas ao longo do segundo semestre do ano, a empresa entrou em crise, perdeu seu presidente e repensou os planos. (O anúncio da desistência da oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) foi feito na primeira semana de 2008).

Otimismo argentino

Com europeus e americanos em crise, os argentinos tiveram um ano com muitos motivos para comemorar. Já em janeiro o diretor-executivo da Associação Argentina de Biocombustíveis e Hidrogênio (AABH), Claudio Molina, não continha seu entusiasmo. “Vamos ser o principal exportador de biodiesel do mundo”, disse em entrevista à imprensa.

A Argentina apresenta condições promissoras para o biodiesel. Lá a exportação de óleo de soja paga 32% em impostos, as exportações de biodiesel, pelo contrário, devem pagar impostos da ordem de 5%, mas têm uma reintegração de 2,5%. A diferença de 29,5% torna o biodiesel produzido pelos hermanos bem mais competitivo.

Essa diferença tributária em vigor na Argentina incomoda as empresas brasileiras de biodiesel. A ameaça representada pelo vizinho fez o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Óleos Vegetais (Abiove), Carlos Lovatelli, pedir providências ao Ministro da Agricultura Reinhold Stephanes, em um encontro ocorrido em junho. Segundo declarou Lovatelli, a diferença de tributação “vai inundar o sul do Brasil de biodiesel argentino”.

Pelo menos 1% do biodiesel argentino já entrou no Brasil em 2007. No ano passado, o vizinho exportou mais de 83 milhões de toneladas do combustível, um aumento de 1.364% em relação a 2006. A maior parte do biodiesel teve como destino a Holanda, com os Estados Unidos vindo em segundo lugar.

O país fechou o ano com oito usinas autorizadas a operar, cinco previstas para inaugurar em breve e outras 20 planejadas. Por enquanto o foco é o mercado externo mas a partir de 2010 será obrigatória a adição de biocombustíveis na proporção de 5% no diesel e na gasolina. (RM)