Análise da semana 23.mar.07 *Acesso Liberado*

Análise Semanal 23.mar.07

Olá Assinante.

Após o aumento do preço do óleo de soja, o setor passou a exigir mais profissionalismo, estudos mais detalhados e projetos mais consistentes, ingredientes importantes para alcançar o sucesso do empreendimento.

Os dois últimos grandes projetos anunciados são da Usina de Água Boa, no Mato Grosso e a Brasbiofuel, no Paraná. Esses dois projetos usam modelos diferentes. Um trabalhará exclusivamente com matéria-prima nacional e outro inicialmente planeja importar.

A empresa Brasbiofuel divulgou a intenção de construir em quatro anos, além da usina de Araucária, mais três e alcançar 1,5 bilhões de litros de biodiesel por ano. O que causa surpresa neste projeto da usina de Araucária, é a importação de girassol da Ucrânia para ser processado aqui no Brasil. O grão sairá da Ucrânia, passará pela porta da Europa, que tem uma necessidade enorme de biodiesel, chegará ao Brasil para ser industrializado. Depois de industrializado, o produto voltará à Europa. Segundo a empresa o montante exportado será de 50% de sua produção. Um projeto com características semelhantes foi anunciado em 2005 para ser construído na cidade de Palmeiras (100 km de Curitiba), que usaria o girassol importado da Argentina. A prefeitura doou o terreno, fez a terraplanagem e a usina não foi construída.

Quem está percorrendo um caminho menos sinuoso para produzir biodiesel é o grupo de 19 produtores rurais do município de Água Boa no Mato Grosso, que sem se deixar levar pela empolgação do biodiesel, contratou em agosto de 2006, uma empresa de consultoria, para a elaboração de um projeto de viabilidade econômica, técnica e financeira, ou seja, queria um projeto com começo, meio e fim. Somente após a elucidação de todas as dúvidas e a análise de todas as variáveis, o grupo decidirá pela construção, apresentando então o projeto para investidores e parceiros.

Outro grande projeto de biodiesel pode ser anunciado em breve. O presidente da Brasil Ecodiesel, Nelson Silveira, está no Acre nesta sexta-feira participando de um encontro com o governador do estado e secretários, com intuito de pesquisar o potencial do estado e possíveis benefícios fiscais para a construção de uma usina de biodiesel. Esta poderá ser a oitava usina da Brasil Ecodiesel, que já conta com três usinas produzindo nas cidades de Floriano – PI, Iraquara – BA, Crateús – CE e tem mais quatro projetos que serão concluídos até o final de 2007 nos municípios de Porto Nacional- TO, Rosário do Sul – RS, Porto Itaqui - MA e Dourados – MS.

Apesar do volume de produção das grandes usinas anunciadas ser alto, as pequenas e médias usinas superam em número de projetos em desenvolvimento, em um ritmo poucas vezes visto. São usinas que estão se espalhando por todo o Brasil e utilizarão vários tipos de matérias-primas para produzir biodiesel.

Uma delas é a usina Ouro Verde em Rolim de Moura, a primeira usina de biodiesel do estado de Rondônia. Com capacidade para produzir 5,1 milhões de litros por ano utilizando a soja como matéria-prima, a usina já tem autorização da ANP para produção de biodiesel. Outra usina que é a primeira de seu estado é a da Embrapa e do Instituto Militar de Engenharia (IME) situada em Mucajaí, Roraima. Trata-se de uma usina piloto com capacidade para produzir 192 mil litros de biodiesel por ano e que utilizará o Inajá, uma palmeira considerada praga, como matéria-prima. Fora também anunciada a construção de uma Usina em Saltinho, Santa Catarina, com capacidade para produzir 600 mil litros de biodiesel por ano e utilizará girassol e gordura de frango para produzir biodiesel. O objetivo dessa usina é aumentar a renda para cerca de 40 famílias que se encarregarão de produzir girassol para ser transformado em biodiesel.

Essas usinas são alguns dos vários projetos de pequenas e médias usinas anunciados no último mês e mostram que o projeto de biodiesel no Brasil tende a se desenvolver também de forma descentralizada. Além de grandes usinas haverá muitas pequenas usinas produzindo biodiesel, diferentemente do que ocorre com o etanol, onde a produção está concentrada nas grandes usinas. As pequenas usinas farão com que o projeto de biodiesel atinja um número maior de trabalhadores e cumpra exemplarmente um papel social.

Essas usinas menores também mostram a variedade de matérias-primas disponíveis no Brasil e conseqüentemente o potencial de produção brasileiro. Com estudos, muitas plantas que hoje não recebem atenção ou são subutilizadas poderão ser a melhor alternativa de produção de uma determinada região.

Biodiesel e sebo bovino
O preço do sebo bovino nos últimos 40 dias subiu 20% no Centro Oeste, principal região produtora, alcançando nesta semana R$ 1.000,00 a tonelada, para sebo de boa qualidade.

Durante o ano passado até final de setembro, o preço do sebo permaneceu cotado entre R$ 500,00 e R$ 600,00 a tonelada. Em outubro, no centro oeste, a cotação do óleo de soja saiu de R$ 1.000,00 para R$ 1.300,00 por tonelada, puxando o preço do sebo para cerca de R$ 800,00. Pequenas usinas principalmente no Mato Grosso, que até outubro utilizavam óleo de soja, passaram a usar sebo bovino para produzir biodiesel. Estas pequenas usinas entraram no mercado de sebo absorvendo a oferta no final do ano passado e continuaram durante este ano. A partir da segunda quinzena de fevereiro com a entrada de mais compradores de sebo para biodiesel o preço do sebo subiu de R$ 800,00 para R$ 1.000,00 a tonelada no centro oeste.

Antes de ser usado como matéria-prima para biodiesel, o sebo da região Centro-Oeste era transportado para a região Sudeste para ser industrializado, basicamente transformado em produtos de higiene e limpeza. Tínhamos um preço na região produtora e outro preço posto na região Sudeste, em função do frete. Agora a região Centro- Oeste tem praticamente o mesmo preço da região sudeste, já que o sebo é consumido na região produtora.

O mercado do sebo no Brasil existia antes do biodiesel e a lei de oferta e procura ditava o preço pago ao produtor, tendo períodos de preços mais altos, outros mais baixos. Com a chegada do biodiesel os produtores de sebo viram uma chance de aumentarem seus lucros. Já que depois de transformado em biodiesel, as usinas agregavam mais de 100% no preço da matéria-prima, porque continuariam vendendo o produto barato? Os produtores de sebo passaram a dividir com as usinas de biodiesel o lucro.

Nos próximos meses o Grupo Bertin, de Lins SP, iniciará suas atividades no setor de biodiesel. A capacidade de produção da usina que está em fase final de construção, será de 100 milhões de litros de biodiesel por ano e utilizará o sebo bovino como principal insumo. Somente esta usina consumirá cerca de 15% de todo o sebo produzido no país. Consolidando a tendência do preço do sebo em um patamar elevado, atrelado ao preço do óleo de soja, do biodiesel e do diesel mineral.

Mais espaço para crescimento
A Malásia e Indonésia, os maiores produtores mundiais de óleo de palma, não têm programa governamental de uso obrigatório de biodiesel, mas têm anunciados projetos para construção de usinas que somam 8,7 milhões de toneladas de biodiesel por ano, utilizando o óleo de palma e de olho principalmente no mercado europeu.

Especialistas dizem que menos da metade destes projetos serão efetivados, e mesmo assim, prevêem dificuldades de mercado para o biodiesel a partir de 2010. No entanto, embora sejam muitas as variáveis que podem afetar o setor ao longo dos próximos anos (em especial o preço do petróleo), estamos vendo espaço para um crescimento ainda mais rápido da indústria do biodiesel a fim de conseguir atender a demanda. Mas para isso o mercado mundial de biodiesel precisará da manutenção e ampliação de incentivos, desenvolvimento de programas governamentais e grande aumento na produção de oleaginosas específicas para biodiesel.

Cresce a pressão por redução da carga tributária
A Associação Brasileira da Agrobusiness (Abag) criou esta semana a Comissão de Agroenergia que reúne empresários e representantes de diversos setores ligados a produção de energia renovável do país. O objetivo desta comissão será formar um coro uníssono sobre a carga tributária aplicada no Brasil, visando convencer as autoridades da necessidade de correções urgentes, principalmente no novo negócio do biodiesel.

O presidente da ABIOVE, Carlos Lovatelli, grande defensor da redução dos impostos sobre o biodiesel, fez uma análise sobre a estrutura tributária criada pelo governo argentino para estimular a produção de biodiesel e previu que o Brasil poderá ser um grande importador de combustível caso persista a atual carga tributária. O país vizinho reduziu para 5% o imposto sobre a exportação de biodiesel, enquanto cobra 27,5% na exportação de soja em grãos.

O futuro do biodiesel brasileiro dependerá de tomadas de decisões feitas na medida exata e na hora certa, caso contrário se “deixarmos como está para ver como é que fica” acabaremos importando biodiesel da Argentina feito com soja brasileira. Então diremos que o Programa Brasileiro de Biodiesel deu certo... para Argentina.

Cotações:
Petróleo tipo brent - Londres nesta sexta feira fechou a U$ 63,56 por barril, com alta de 4,38% na semana. O aumento expressivo do preço do petróleo nesta sexta-feira ocorreu após a detenção de 15 membros da marinha britânica por navios iranianos. O incidente poderá ter desdobramentos imprevisíveis nos preços do petróleo.

Óleo de soja, Bolsa de Chicago, contrato para maio cotado a U$ 0,3197 por libra peso nesta sexta feira, com forte alta na semana de 4,61%.

Sebo bovino MT – R$ 900,00 a R$ 1.000,00 por tonelada.

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